domingo, 24 de outubro de 2010

Sobre a continuidade e a ruptura

Em pleno século XIX, o filósofo alemão F. Hegel desenhou a base do seu sistema filosófico, ancorado numa nova
perspectiva extensível a todos os campos do saber - a evolução dialéctica, particularmente da história, uma nova luz sobre como
a cultura de passou a compreender a si própria. Em primeiro lugar, compreendeu-se que o progresso histórico não é linear,
mas acidentado, repleto de avanços e recuos, fracturas e perdas. Esvaneceu-se assim, ao mesmo tempo, um certo encanto romântico
que o acaso possa desempenhar, dissolvido numa visão determinista da história.
Mas mais perturbador do que pensar a história como um processo químico, que estamos eternamente condenados a incidir nos
erros passados, a compreender que a segurança do pós-Segunda Guerra Mundial nos trouxe é meramente ilusória, que um dia, enfim, tudo se acaba, é
pensar que talvez as coisas nunca mudem, que por mais que nos imponham o catecismo refinado das universidades e do progresso humano, estamos fadados para
uma espécie de deambulação imóvel. Será que o estado nazi rompeu de forma assim tão flagrante com a cultura alemã oitocentista: veneração da autoridade e da hierarquia, tendência territorial expansiva, ansiedade pela pureza da nação. Será que o estado bolchevique quebrou assim tão radicalmente com o passado czarista: ortodoxia iconoclasta, inquisitorialismo, separação entre estado e sociedade.
Pergunta final: será que o boom tecnológico e as suas consequências ao nível social não lançará a humanidade para uma nova era de obscurantismo e desumanização?