sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Aquiles e o rosto de Heitor

Diz-se que o outrora poderoso Aquiles não morreu ferido no calcanhar. Essa seria uma necessidade narrativa que Homero concedera aos fortes e belos: morrer forte e belo. O misterioso apócrifo que o refere, narra pesadamente o pior castigo que os Deuses dão aos prepotentes. A morte por velhice. A morte reservada aos que deverão assistir à lenta decadência do seu corpo e faculdades mentais. As novidades de horror que as vísceras nos reservam. A dor que nunca em idade sana imaginámos existir.
Definhou velho, o pobre Aquiles.
Refere-se também o dia em que Aquiles trucidou Heitor. Como furioso o esventrou em frente do seu amado pai, como o prendeu à sua troica de esbeltos cavalos e o arrastou pelas praias empoeiradas e pedregosas de Tróia.
Num acto final desesperado, teria mesmo desfeito o rosto de Heitor com uma pedra afiada. Dir-lhe-ia uma Musa suspeita, que quanto mais delapidava o odiado rosto, mais o seu se lhe desenhava no inerte cadáver.