sábado, 22 de maio de 2010

Capitalismo III

Lloggi, o monstro amoroso precisa de amor.Já nao lhe bastava trucidar os seus filhos e servos, que agora surge-lhe na fronte vã a necessidade de ser amado. Lloggi descobriu que nada subsiste sem a a crença, e que o Império Romano caiu quando a ideia de Roma , enquanto elemnto civilizacional, morreu. Mas Lloggi habituou-se demasiado rápido à guerra.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Desenvolvimento por enclaves

R. Kapuscinski, grande jornalista polaco e escritor, talvez o maior o maior do século passado, conheceu bem a fundo aquilo que designamos por teceiro mundo. Países subdesenvolvidos, com défices infraestruturais e educacionais crónicos, patologias sociais endémicas, Estado falhados. Uma das notas que, na opinião deste autor, caracteriza um país do terceiro mundo é o chamado desenvolvimento por enclaves. Que quer isto dizer?
Na paisagem urbana de uma cidade de um país desenvolvido, deparamo-nos com uma certa ordem de coisas: a disposição das casas, as ruas e edifícios denotam uma certa homogeneidade. Encontram-se razoavelmente limpas, as estradas e todas as zonas da cidade conhecem padrões de qualidade muito semelhantes; a própria aparência dos seus habitantes sugere uma certa homogeneidade.
Já nos países subdesenvolvidos, as cidades apresentam graus de organizalção muito díspares, os bairros e condomínios de luxo intercalam com bairros de lata, às casas degradadas sucede um ou outro edifício imponente - imponentemente asséptico - ,a monumentalidade fria de uma banco, por exemplo, uma espécie de oasis asséptico entre a desolação.
Não será muito difícil identificar este último modelo com o nosso país. Os centros históricos das cidades portuguesas estão abandonados, empedernidos de casas (por vezes de grande valor arquitectónico) em total degradação, fruto de anos de abandono pelo poder autárquico, que sempre prefere alargar o perímetro urbano, autorizar novos loteamentos de legalidade duvidosa e cumprimento dos planos urbanísticos mais que duvidoso, condomínios fechados e outras sensaborías. Isto é o desenvolvimento por enclaves, triste realidade do nosso país nas últimas décadas.
Arriscar-me-ia a ir ainda mais além neste conceito. Diria que a tendência estende-se a toda a sociedade que não se desenvolve de forma harmónica. O fenómeno da globalização acentuou ainda mais esta tendência.
O mesmo Estado que diz estar no "Top" em informatização dos serviços, concede reformas de miséria aos aposentados, salários de fome aos trabalhadores, condições paupérrimas no acesso à justiça, iniquidades insuportáveis no sistema de educação.
Talvez um dia se cumpra o sonho profético de Saramago, e o nosso pequeno quadrado vagueie por esse oceano Atlântico fora até esbarrar com a América latina.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A monotonia do terror

Só quando o tempo serve a acção, exclusivamente a acção, se compreende como até o terror pode ser monótono.
O hábito, enfim, o último reduto dos seres vivos. A monotonia, necessidade de sobrevivência.

domingo, 16 de maio de 2010

Requiem por um liberalismo muito pouco liberal

Este texto poderia ter muitos outros títulos, todos eles tristes, todos eles cómico-trágicos, todos com um je ne sais pas quoi de verdade. O primeiro poderia ser: “ A concorrência em Portugal, história de um desencanto”, ou então “Contra o Estado, marchar...marchar!”, ou recuperando a célebre frase de Baudelaire. “ Um oásis de horrores num deserto de aborrecimento” (o que adaptado à realidade portuguesa seria mais “Um oásis de corruptos no país dos gatos pingados”)...
Há já alguns anos que a fixação do preço dos combustíveis foi deixada à boa mercê dos privados. O resultado está à vista. As duas grandes empresas do sector não concorrem. Fixam os preços. O povo paga e continua calado. Mas existe uma autoridade para a concorrência em Portugal? Sim, existe. O que faz? Nada. Sim, mas também existem normas anti-trust da toda poderosa legislação europeia. Sim, existem, mas esta salvaguarda a aplicação das suas sanções dos casos em que da concentração resulte um manifesto benefício para o consumidor. Existe esse benefício em Portugal? Sim, o pobre condutor que faça um percurso na auto-estrada de Bragança a Vila Real de Santo António encontrará postos de abastecimento de X em X quilómetros e... e... graças a Deus, todos com o mesmo preço. Aí está o benefício, os postos de abastecimento. O que faz a Comissão Europeia? Nada.
As empresas de telecomunicações têm também em Portugal um paraíso único em toda a Europa. Fazem os preços que querem, apresentam preços demasiado.... só demasiado semelhantes. O povo paga. Autoridade da concorrência? Nada. Comissão? Nada.
Também por alguma razão que desconheço, os analistas dessas novas agencias de rating, essas que põem o cabelo em pé a qualquer governante, desconfiam da solvabilidade do nosso pais. Porquê? Se somos o povo mais sobreserviente, o mais estúpido, o mais amorfo?! Deveriam sim, avaliar em alta o nosso pais, uma vez que os sucessivos governos podem impor as medidas restritivas que bem entenderem. À parte dos chatos do costume (aos quais um certo cronista apelidou de excrementos) não encontrarão oposição. Os dois grandes partidos do poder chegaram a um enorme consenso em prol da pátria. Reduzir, cortar, emagrecer, para bem satisfazer o desejo de sangue dos investidores, os mesmos que pelos ganhos de um dia sacrificam o bem-estar das futuras gerações.

sábado, 15 de maio de 2010

Capitalismo II

Lloggi, esse monstro terrivelmente bondoso, é muitas vezes fustigado por uma fome avassaladora. Começa por se alimentar daquilo que a natureza dá: frutos, plantas, carne de animais, raízes. Um dia estas benesses de Deus esgotam e começa a comer as casas, as ruas, os postes de electricidade. Quando já nada se mantém de pé, começa a comer as pessoas, as suas carnes suculentas, os ossos, as cartilagnes, os contornos do crâneo. Quando já não restar ninguém, talvez enverede pela carreira da necrofagia. Os mortos qe se cuidem. Mas só dentro de si continua a ser possível o amor.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O Diabo, provavelmente...

Quem tenta explicar os diversos movimentos da história, os surtos de peste e guerra, os avanços e recuos de povos, deparar-se-á com dificuldades excruciantes caso resolva ir um pouco mais além da frieza dos factos e datas. Há uma outra força que surge de forma irruptiva na história: a da estupidez -, e para essa essa não existe explicação nem análise plausível. Como assim? Em determinados períodos, aglomerados maiores ou menores de pessoas resolvem-se pela estupidez, pelo conformismo, pelo acriticismo. É essa força obscura que hoje irrompe no meio empresarial, onde
a falta de ética, a agressividade, a falta de escrúpulos, são não apenas aceitáveis mas incentivadas.
O Newspeak empresarial banha-se de novos conceitos, transplantando-os para a esfera pública e particular: a cultura do objectivo, a pró-actividade, o "brainstroming", o a crença estapafurdia no potencial ilimitado do indivíduo ( que na verdade não é mais do que uma crença em algo indefinível revestido de um perfume de religiosidade).
A política e os seus fenómenos excludentes já não surge em asserções assumidas, mas na frieza de um regulamento, na inquestionabilidade de uma ordem.
Mais do que tudo, é necessário que a nova esquerda renove o seu discurso político. A retórica tradicional sindicalista deve-se focar no que acontece dentro da empresa, sob pena de criar uma sociedade bicéfala: a do estado (teórica) e a sociedade real, onde vigora a selvagaria.