Quando Marx coloca a economia, como sendo o centro polarizador da sobrevivência, no cerne da vida social e histórica, na realidade não está a ver um determinado fenómeno apenas do ponto de vista económico, mas a abarcá-lo de diversos pontos de vista. Eis o monismo que o os positivistas do século XIX tanto menosprezaram.
Se as relações económicas se estruturam em relações de produção, onde uma das partes detém o capital e outra parte fornece o seu trabalho em troca de uma remuneração, estamos perante um jogo de forças (e bem assim num equilibrio social precário) que contamina a própria estrutura das relações sociais. Daí a crença de que o modelo económico acabará por arrastar o modelo social para o mesmo tipo de estruturação.
Não surpreende então que um modelo económico baseado no medo, na hierarquia e na irracionalidade, como aquele que o capitalismo favorece, acabará por levar por arrasto as relações sociais e o próprio comportamento individual. Acreditar-se-á em alguma natureza humana fundada na procura do lucro, depois de admitidos estes pressupostos? As pessoas acabarão, elas próprias, por se classificar por uma espécie de valia económica implícita, os seus desejos e ansiedades sujeitos a regras inflacionárias e deflacionárias, as suas qualidades vendidas no mercado a preço de saldo.
Na verdade, muito do que somos reflecte-se no trabalho enquanto estrutura de relacionação com a sociedade. Mas a uma sociedade que vê as relações e valia pessoais como um dado utilitário, não custa depreciar o desempregado como inútil, como um peso para si próprio e para o conjunto.
Perguntemo-nos também porque mesmo a estrutura mais desumana conseguirá sempre os seus adeptos, independetemente da época histórica e por mais absurdas que sejam as suas proposições? Porque se segue a força, que raramente (ou só provisoriamente) poderá ser a força dos fracos.
terça-feira, 12 de julho de 2011
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