domingo, 16 de maio de 2010

Requiem por um liberalismo muito pouco liberal

Este texto poderia ter muitos outros títulos, todos eles tristes, todos eles cómico-trágicos, todos com um je ne sais pas quoi de verdade. O primeiro poderia ser: “ A concorrência em Portugal, história de um desencanto”, ou então “Contra o Estado, marchar...marchar!”, ou recuperando a célebre frase de Baudelaire. “ Um oásis de horrores num deserto de aborrecimento” (o que adaptado à realidade portuguesa seria mais “Um oásis de corruptos no país dos gatos pingados”)...
Há já alguns anos que a fixação do preço dos combustíveis foi deixada à boa mercê dos privados. O resultado está à vista. As duas grandes empresas do sector não concorrem. Fixam os preços. O povo paga e continua calado. Mas existe uma autoridade para a concorrência em Portugal? Sim, existe. O que faz? Nada. Sim, mas também existem normas anti-trust da toda poderosa legislação europeia. Sim, existem, mas esta salvaguarda a aplicação das suas sanções dos casos em que da concentração resulte um manifesto benefício para o consumidor. Existe esse benefício em Portugal? Sim, o pobre condutor que faça um percurso na auto-estrada de Bragança a Vila Real de Santo António encontrará postos de abastecimento de X em X quilómetros e... e... graças a Deus, todos com o mesmo preço. Aí está o benefício, os postos de abastecimento. O que faz a Comissão Europeia? Nada.
As empresas de telecomunicações têm também em Portugal um paraíso único em toda a Europa. Fazem os preços que querem, apresentam preços demasiado.... só demasiado semelhantes. O povo paga. Autoridade da concorrência? Nada. Comissão? Nada.
Também por alguma razão que desconheço, os analistas dessas novas agencias de rating, essas que põem o cabelo em pé a qualquer governante, desconfiam da solvabilidade do nosso pais. Porquê? Se somos o povo mais sobreserviente, o mais estúpido, o mais amorfo?! Deveriam sim, avaliar em alta o nosso pais, uma vez que os sucessivos governos podem impor as medidas restritivas que bem entenderem. À parte dos chatos do costume (aos quais um certo cronista apelidou de excrementos) não encontrarão oposição. Os dois grandes partidos do poder chegaram a um enorme consenso em prol da pátria. Reduzir, cortar, emagrecer, para bem satisfazer o desejo de sangue dos investidores, os mesmos que pelos ganhos de um dia sacrificam o bem-estar das futuras gerações.

1 comentário:

  1. Aqui no Brasil, uma cidade e seus cidadãos ficaram ilhados com tantos pedágios, não se podia sair da cidade sem pagar várias vezes para ir e voltar. Eu sou um liberal,mas não concordo com suas distorções por conta da iniciativa privada e suas ambições.

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