domingo, 18 de novembro de 2012



Vindo de uma solene cerimónia de inauguração de um ciclo de cinema russo, a verdade acaba por chegar em formas sinuosas. À boa maneira russa, a cerimónia foi desastrada e cheia de peripécias: más traduções, fatos e vestidos grotescos que só a custo faziam entrever a singular beleza eslava – enfim, uma trapalhada.
Chegada a hora de conferenciar o embaixador plenipotenciário, devidamente acompanhado pelo subsecretário de estado da cultura (num país onde não existe Ministério da Cultura, este mais se assemelhava a um cangalheiro), passadas as várias banalidades que ambos, por protocolo, deveriam dizer, o embaixador sentencia: muitos serão os portugueses que hoje conhecem as grandes obras clássicas dos autores russos, mas poucos ou nenhuns os que conhecem o cinema contemporâneo russo. Vamos lá a ver, esse cinema contemporâneo russo…
Um filme, “Amo-te Moscovo”, uma sumula de pequenas novelas realizadas por finalistas do curso de cinema juntamente com autores consagrados, numa espécie de ode à cidade, com todos os seus defeitos e qualidades. O filme resume-se a uma imitação de um outro filme de há uns anitos atrás (Amo-te Paris), que por sua vez já será uma imitação de outra coisa, e seguro estou que continuar-se-ão a realizar novas declarações de amor no formato das imagens em movimento enquanto o secreto equilíbrio cósmico que suporta a vulgaridade aguentar tais expansões.
Apesar do filme ser bastante MAU (com toda a carga maniqueísta que este conceito pode ter), não é com certeza uma perda de tempo. Por entre os diversos lugares comuns, imagens arranjadas num digital piroso, mafiosos/oligarcas com ar amoroso, uma mensagem subliminar e poderosa vai passando: não sei se se vive melhor ou pior na Rússia de hoje (sim, digo Rússia, não Moscovo), mas parece-me ser um local reles e predador.

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