Vindo de uma solene cerimónia de inauguração de um ciclo de
cinema russo, a verdade acaba por chegar em formas sinuosas. À boa maneira
russa, a cerimónia foi desastrada e cheia de peripécias: más traduções, fatos e
vestidos grotescos que só a custo faziam entrever a singular beleza eslava –
enfim, uma trapalhada.
Chegada a hora de conferenciar o embaixador
plenipotenciário, devidamente acompanhado pelo subsecretário de estado da
cultura (num país onde não existe Ministério da Cultura, este mais se
assemelhava a um cangalheiro), passadas as várias banalidades que ambos, por
protocolo, deveriam dizer, o embaixador sentencia: muitos serão os portugueses
que hoje conhecem as grandes obras clássicas dos autores russos, mas poucos ou
nenhuns os que conhecem o cinema contemporâneo russo. Vamos lá a ver, esse
cinema contemporâneo russo…
Um filme, “Amo-te Moscovo”, uma sumula de pequenas novelas
realizadas por finalistas do curso de cinema juntamente com autores
consagrados, numa espécie de ode à cidade, com todos os seus defeitos e qualidades.
O filme resume-se a uma imitação de um outro filme de há uns anitos atrás
(Amo-te Paris), que por sua vez já será uma imitação de outra coisa, e seguro
estou que continuar-se-ão a realizar novas declarações de amor no formato das
imagens em movimento enquanto o secreto equilíbrio cósmico que suporta a
vulgaridade aguentar tais expansões.
Apesar do filme ser bastante MAU (com toda a carga
maniqueísta que este conceito pode ter), não é com certeza uma perda de tempo.
Por entre os diversos lugares comuns, imagens arranjadas num digital piroso,
mafiosos/oligarcas com ar amoroso, uma mensagem subliminar e poderosa vai
passando: não sei se se vive melhor ou pior na Rússia de hoje (sim, digo
Rússia, não Moscovo), mas parece-me ser um local reles e predador.
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